Lazaro Roberto
Qual é o pente que te penteia?
É a exposição do fotógrafo e arte-educador, Lázaro Roberto, que a Prefeitura de Salvador, através da Secretaria de Cultura e Turismo inaugura no dia 9 de março, quinta-feira, às18 horas, na área externa do Forte de Santa Maria, no Porto da Barra. A iniciativa marca a segunda etapa da programação ao ar livre no espaço Fragmentos, Mostra Temporária no Espaço Pierre Verger da Fotografia Baiana. No mesmo dia serão disponibilizados para os visitantes da exposição permanente, na área interna do Forte de Santa Maria, os ensaios de fotografia contemporânea de João Machado e de Rodrigo Wanderley.
Lázaro Roberto retrata pontos marcantes das raízes negras na cultura baiana colhidos no cotidiano da periferia de Salvador. Conhecido também como “Lente Negra”, o fotógrafo pesquisa e ressalta pontos fortes da originalidade da cultura popular através da arte dos penteados.
Para criar uma mostra sobre os penteados afros, foram selecionadas 28 fotos do tema clicadas por Lázaro Roberto nos últimos trinta anos. As imagens traduzem como os afrodescendentes expressam sua herança cultural e fazem da estética uma arte e uma forma de comunicação.
De acordo com Alex Baradel, curador da mostra, a arte de pentear é um dos elementos mais visíveis e menos destacados dessa cultura, está presente no dia a dia do baiano, mas parece não chamar tanta atenção. “Graças à lente e à obstinação de Lázaro, podemos enxergar toda a riqueza e a criatividade dessa arte, utilizada inicialmente para embelezar uma pessoa, mas que acaba também destacando a sua personalidade e até pode servir como suporte de mensagens muito mais significativas”, completa.
Na intenção de deixar o conteúdo do Espaço Pierre Verger da Fotografia cada vez mais rico, novos ensaios de fotografia contemporânea estarão disponíveis na mesma data da inauguração da mostra de Lázaro Roberto: Iluminados, de João Machado e Noites Interiores, de Rodrigo Wanderley. “São ensaios muito interessantes, feitos à noite e no interior da Bahia. Ambos são muito poéticos. Rodrigo Wanderley apresenta imagens mais introspectivas. No caso de João Machado é privilegiada a estética, que dialoga com o sonho. Os dois exploram as luzes silenciosas da noite, luzes naturais com toques de luzes artificiais que marcam a saudade de momentos de paz característicos das noites do sertão baiano”, explica Alex.
O fotógrafo Lázaro Roberto
Nascido em Salvador, no bairro da Fazenda Grande do Retiro, o fotógrafo de rua, arte-educador e militante do movimento negro, Lázaro Roberto, atua na periferia da capital para captar com sua lente traços da cultura afrodescendente na região.
Desde seu ingresso no universo da fotografia, nos anos 1970, seu trabalho vem sendo marcado por registros da influência das raízes negras na cultura baiana. Através da fotografia, recolhe histórias que constituem as memórias negras.
Lázaro Roberto vem repassando sua arte por meio de cursos e oficinas sobre fotografia e técnicas artísticas, em instituições como Escola de Belas Artes da UFBA, Senac, Fundação Casa de Jorge Amado e Museu Eugênio Teixeira Leal.
Além disso, tem foco em fortalecer os fotógrafos e as fotografias de negros. Fundou o Zumvi Arquivo Fotográfico, uma associação de fotógrafos negros comprometidos com o registro das atividades culturais, políticas e artísticas que produz e arquiva imagens sobre a cultura afro-brasileira. Os trabalhos abordam temas como a labuta dos trabalhadores nas feiras, festas e festejos populares e religiosos, a vida dos quilombolas, a estética e representação negra, a luta política e as ações do movimento negro e aspectos da vida cotidiana.
Participou de exposições e publicações direcionadas a pesquisas de temática afro-brasileira. Publicou, no Caderno do Centro de Recursos Humanos-CRH da UFBA, Contos e toque: etnografia do espaço negro na Bahia.
Na Semana da Consciência Negra de 1992, publicou a pesquisa fotográfica O Negro e seu trabalho na Feira de Água de Meninos a São Joaquim, incluindo quatro fotografias de Pierre Verger, e contando a parceria do historiador Jorge Antônio do Espírito Santo Batista.
Em 1993, documentou a aula inaugural do Instituto Cultural Steve Biko, pioneiro em pré-vestibular para afrodescendentes no Brasil. Recebeu da Unegro o Troféu Clementina de Jesus, dedicado a pessoas que se destacam na afirmação social do povo negro.
Conviveu com Pierre Verger, como grande admirador do seu trabalho e retratou o fotógrafo franco-baiano no final de sua vida. Fez várias oficinas no Espaço Pierre Verger da Fotografia Baiana.