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Entrevista com Alexis Peskine

ECPV: De onde surgiu o projeto?
Alexis: Pela Ong(Giving Back). Eu, como embaixador das artes e o presidente, estávamos em Salvador, por motivos diferentes e nos encontramos aqui e tivemos a ideia de desenvolver o projeto aqui. Inicialmente a ideia era trabalhar com basquete, mas vimos que fazia mais sentido desenvolver projeto na área de arte.

Como se chama o projeto?
Em pregos, que faz uma alusão ao trabalho com pregos, mas também porque tem o objetivo de profissionalizar jovens artistas, daí o sentido dúbio com empregos. A técnica do trabalho com pregos se chama acupintura.

Já existia a proposta das atividades, a ideia da viagem?
Não, na verdade as coisas foram acontecendo. A proposta de fazer uma troca com Senegal já existia, mas pra ir até lá teríamos que passar pela França e pensei que não fazia sentido pra os alunos, que nunca saíram do país, passar só dois dias na França. Então pensei em ficar 3 semanas ou um mês, visitar os Museus de lá, trocar conhecimento com outros jovens. Daí surgiu a proposta de trabalharem com os alunos de lá, num trabalho que já realizo com jovens também da periferia. Só que os alunos daqui são “barril”(gíria utilizada pelos alunos que tem significado de bom), eles entendem mais de arte, de conceito, então a proposta é que os alunos daqui vão dar aula aos alunos de lá. Depois veio a ideia de levá-los ao Marrocos. Havia sido convidado pra fazer uma residência artística, em que eles convidam artistas do mundo todo. Aí pensei em leva-los agora de uma forma mais profissional, não mais como alunos, como meus assistentes mesmo. Lá ficaremos na residência, temos refeições, tudo.

Porque o Espaço Cultural Pierre Verger?
Eu já conhecia o trabalho de Pierre Verger, conhecia a galeria, tinha uns produtos de lá e admirava muito o trabalho e a vida de Verger e um dia, sem programar, estava indo à casa de uma tia, no Engenho Velho e descobri que a Fundação ficava aqui. Logo conversei com Angela sobre a proposta e ela abraçou a causa. A ONG havia sugerido pessoas e procedimentos, mas eu acredito muito nessa coisa de universo, atração e acho que de alguma forma aconteceu de ser aqui. Assim, o trabalho se ampliou, de forma que o que era pra ser só pela manhã, acabou se estendendo pelas tardes. Foi muito bom porque a Fundação me ajudou nas duas principais coisas que eu precisava: o espaço físico (atelier) e os alunos.

Como se deu o processo de escolha dos participantes?
Os jovens que estão aqui estão com um olhar muito voltado para as artes, comprometidos mesmo. Alguém como Tiago, que é um artista, já nasceu artista, entende mais do conceitual, enquanto os outros dois são muito bons na técnica, no trabalho prático. Então a ideia era essa, não apenas de profissionalizar, mas de alimentar a alma e ganhar a vida. Acredito muito que a gente deve fazer aquilo que gosta. Ás vezes demora mais, a gente acha que está perdendo tempo, mas muita gente perde muito tempo com o que não gosta. Então, hoje eles são assistentes, a ideia é que eles se tornem artistas, conheçam lugares, pessoas... por isso eles vão fazer trabalhos individuais, tirar foto dos lugares, gosto muito dessa ideia de pluriculturalidade, pluridentidade. Lá na França ficava muito incomodado com conceitos que discriminavam pessoas de outras origem também, achavam que na eram franceses puramente. Me incomodava com isso, lutava por questões de discriminação. Mas depois percebi que viajava muito, gosto das viagens, minha família é mestiça. A maior parte está na Engomadeira, Mata Escura, Engenho Velho de Brotas, em Salvador. Gosto dessa ideia pluricultural, então aqui tiramos fotos de três alunos que vão ser trabalhadas de acordo com a realidade daqui também.

Existe também a colaboração de outros artistas, como Nádia Taquary (que está trabalhando aqui hoje, com vocês)?
A ideia é profissionalização, então eles puderam conhecer outros artistas. Tanto conhecidos meus daqui, como pessoas de fora, que eles viram através do Google, youtube. Pensava em aproximar os conceitos que eles tinham com artistas que já trabalhavam com aquilo. Podemos contar com a colaboração da grande artista Nádia Taquary, com toda a sua generosidade simplicidade. Pensamos nessa ideia de intolerância entre as religiões e o trabalho de Nádia com figas e fitas, veio como uma conexão natural com o nosso trabalho e a generosidade dela em oferecer o seu trabalho. A vontade é de continuar trabalhando juntos quando voltarmos, existe uma aproximação, trabalhamos de forma parecida.

E no retorno?
Faremos a exposição no Brasil, junto às comemorações da Consciência Negra, temos a ideia também de fazer oficinas em Salvador e Recife, quando voltarmos. Os alunos estão aprendendo também noções de vídeo, fotografia, pretendemos fazer documentários, como já fizemos um pequeno, agora. Não sabemos direito ainda, depende de muita coisa, de financiamentos, mas a ideia é continuarmos esse projeto, que é piloto.