O olhar Míope

Quando Pierre Verger começou a fotografar, no início dos anos 1930, ao adquirir sua primeira Rolleiflex, ele se sentia principalmente atraído por matérias e objetos:

“O que me encantava no equipamento que acompanhava a Rollei eram dois pares de lentes de aproximação que, adaptadas nas objetivas do aparelho, permitiam tirar fotografias de objetos colocados a  cinquenta centímetros de distância de uma, e – oh! maravilha! – a somente trinta centímetros da outra. Tinha-me seduzido pela extraordinária nitidez dos detalhes que sobressaíam nas fotos tiradas de tão curta distância e me permitiam valorizar o contraste do rugoso e do liso [foto 3], do brilhante e do fosco, o veio da madeira, a espuma de uma onda vindo morrer na areia granulosa de uma praia [foto 4], as gotas do orvalho sobre um talo de erva, um canto de calçada asfaltada, alguns paralelepípedos  e um bueiro, e – oh! triunfo! -, um lagarto engolindo uma mosca.

Tirava somente aqueles tipos de fotografia, durante minhas primeiras excursões, como aquele que fiz na Córsega onde percorri mil e quinhentos quilômetros a pé.

Meu gosto felizmente evoluiu e passei a dirigir um olhar menos míope sobre o mundo, durante os anos que se seguiram.”